domingo, 30 de maio de 2010

Poema de Outono

O vento soprou tão doce e sereno 
Tocou-me ao de leve girou sentimentos, dormentes, silentes 
Que em voo rasante tocaram o chão 
O fundo da alma fez-se de cor de ouro,
Castanho ou laranja 
Deu frutos já secos, de um doce amargo 
Surgiu o outono, no meu coração. (Num dia de sol a antecipar o outono)
Fonte: http://mulher50a60.weblog.com.pt/arquivo/2004/09/poema_de_outono.html

Saber Ouvir

Saber ouvir
Ela era uma senhora solitária, envolta no luto da dor, desde que o marido morrera. Vivia só, na grande casa do meio da quadra. Casa com varanda e cadeira de balanço. Todas as manhãs, o entregador de jornais, garoto de uns 10 anos, passava pedalando sua bicicleta e, num gesto bem planejado, atirava o jornal nos degraus da varanda. Nunca errava. Paff! Era o sinal característico do jornal caindo no segundo degrau. Então, numa manhã de inverno, quando se preparava para lançar o jornal, ele a viu. Parada nos degraus da varanda, de pé, acenando-lhe para que se aproximasse. Ele desceu da bicicleta e foi andando em direção a ela. O que será que ela quer? - Pensou o garoto. Será que vai reclamar de alguma coisa? Venha tomar um café, falou a senhora. Tenho biscoitos gostosos. Enquanto ele saboreava o lanche que lhe aquecia as entranhas, ela começou a falar. Falou a respeito do marido, de suas vidas, da sua saudade. Passado um quarto de hora, ele se levantou, agradeceu e saiu. No dia seguinte e no outro, a cena se repetiu. O menino decidiu falar a seu pai a respeito. Afinal, ele achava muito estranha aquela atitude. O pai, homem experiente, lhe disse: Filho, ouça apenas. A senhora Almeida deve estar se sentindo solitária, após a morte do marido. Deixe-a falar. Recordar os dias de felicidade vividos deve lhe fazer bem ao coração. É importante que alguém a ouça. Nos dias que se seguiram, nas semanas e nos meses, o garoto aprendeu a ouvir, demonstrando interesse em seus olhos verdes e espertos. Quando a primavera chegou, ela substituiu o café quentinho pelo suco de frutas. O verão trouxe sorvete. Ao final, o entregador de jornais já iniciava sua tarefa pensando na parada obrigatória em casa da viúva. Habituou-se a escutar e escutar. Percebeu, com o tempo, que a velha senhora foi mudando o tom das conversas. Como a primavera, ela voltou a florir, nos meses que vieram depois. Quando o ano findou, o menino foi estudar em outra cidade. O tempo se encarregaria de lecionar mais esperança no coração da viúva e amadurecer ideias no cérebro jovem. Muitos fatores contribuíram para que o garoto e a viúva não tornassem a se encontrar. Contudo, uma lição o acompanhou por toda a vida. Ele nunca se esqueceu da importância de ouvir as pessoas, suas dificuldades, seus problemas, suas queixas. Lição que contribuiu também para o seu sucesso como esposo, pai de família e profissional.  É, saber ouvir também é uma maneira de aprender e ajudar, e indo mais além, como escreveu o filósofo e jornalista Carlos Abranches: "Insinuar que não se escuta é sinal de que ouvir pode ser algo mais difícil do que se pensa". Pensemos nisso.
Com base no texto: "O que aprendi com os vizinhos", de Seleções Reader´s Digest, de abril de 1999